Ética Africana: Equilíbrio entre o Homem, a Natureza e o Espiritual
As religiões tradicionais africanas são um conjunto
diversificado de crenças e práticas espirituais indígenas dos povos da África,
que variam amplamente entre etnias, regiões e culturas. Não existe uma única
“religião africana”, mas sim múltiplos sistemas de crenças que compartilham certas características comuns.
“En África, cuando un anciano muere, una biblioteca arde”
Amadou Hampaté Bá
(historiador e poeta maliense)
«A África, berço da humanidade, tem uma história e deu à luz a
história.» Joseph Ki-Zerbo
(historiador burquinense)
Eles acreditam em um Deus supremo ou criador (como
Olodumare entre os iorubás ou Nyame entre os akan), embora esse Deus
geralmente esteja distante e seja interagido por meio de divindades menores,
ancestrais ou espíritos.
Os ancestrais ocupam um lugar central, venerados
como mediadores entre os vivos e o divino.
A natureza (montanhas, rios, animais) e os
espíritos associados são fundamentais, refletindo uma profunda conexão com o
meio ambiente.
2. Práticas e rituais:
Elas incluem cerimônias de iniciação, ritos de passagem
(nascimento, casamento, morte), sacrifícios, oferendas e adivinhação.
Música, dança e tambores são essenciais em rituais para invocar
espíritos ou se conectar com o sagrado.
Os adivinhos Griots, xamãs ou líderes espirituais
(como babalawos na tradição iorubá) interpretam a vontade divina ou resolvem
conflitos.
África Ocidental: Tradições como a religião iorubá (com orixás como
Xangô ou Iemanjá) ou a religião vodum no Benim e no Togo, que influenciaram
práticas do Novo Mundo, como o vodu haitiano ou a santeria cubana.
África Central e Meridional: Os bantu adoram ancestrais e
acreditam em espíritos protetores (como os Nganga no Congo).
África Oriental: Os Maasai e outros povos integram crenças em
espíritos da natureza e em um deus celestial, como Enkai.
4. Sincretismo:
Muitas religiões tradicionais se misturaram com o cristianismo, o Islão ou
influências coloniais, dando origem a práticas sincréticas. Por exemplo, o
candomblé no Brasil combina elementos iorubás com o
catolicismo.
Mestrado em Comércio Internacional, Universidade Ouaga II e a EENI
Religiões Tradicionais Africanas e Negócios
As religiões tradicionais africanas (ATRs), embora frequentemente
marginalizadas no discurso empresarial global, desempenham um papel
significativo na forma como os negócios são feitos em diferentes regiões da
África e também na diáspora.
Impacto no mundo empresarial local
Confiança e legitimidade: As decisões empresariais são
frequentemente legitimadas por líderes ou rituais tradicionais. Em África, a
Coca-Cola faz parcerias com clérigos cristãos e muçulmanos.
Ética empresarial comunitária: as religiões
tradicionais africanas priorizam o bem-estar do grupo em detrimento do ganho
individual, influenciando práticas cooperativas e parcerias locais.
Rituais de abertura: Antes de abrir um negócio,
iniciar um mercado ou um projeto, cerimônias de bênção são realizadas em
algumas comunidades.
Gestão de conflitos: Os mecanismos tradicionais
de resolução, baseados em anciãos ou conselhos comunitários, ainda são
usados em contextos empresariais.
No contexto empresarial global
Interculturalidade: Entender as religiões tradicionais africanas é
fundamental para que empresas estrangeiras estabeleçam relações de confiança
com as comunidades africanas.
Sustentabilidade: Muitas dessas religiões enfatizam um
relacionamento harmonioso com a natureza, o que se alinha às práticas
modernas de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e ESG.
Liderança e tomada de decisões: A influência de líderes religiosos
ou tradicionais pode ser decisiva em negociações com empresas
internacionais.
Economia espiritual: surgem mercados ligados às práticas
tradicionais (arte, medicina tradicional, turismo espiritual), que entram em
cadeias globais.
As religiões tradicionais africanas não são apenas um aspecto espiritual, mas
também uma estrutura cultural e ética que molda a forma como os negócios
são feitos em África. Em um contexto global, elas representam tanto um
desafio para a compreensão intercultural quanto uma oportunidade para práticas
comerciais mais humanas e sustentáveis.
Mineração de ouro em Gana e a influência
das religiões tradicionais africanas
Gana é um dos maiores produtores de ouro do mundo. Muitas empresas
multinacionais do Canadá, África do Sul, Austrália e China investem em projetos
de mineração no país. No entanto, em diversas comunidades mineradoras, as
religiões tradicionais desempenham um papel fundamental na aceitação ou rejeição
desses projetos.
Na região de Ashanti, antes de iniciar as operações de mineração, uma empresa
canadense planejou suas operações sem consultar líderes tradicionais ou realizar
rituais culturalmente legitimadores. A área onde a mina estava localizada era
considerada terra sagrada, habitada por espíritos protetores, de acordo com a
cosmovisão local.
Os anciãos e os sacerdotes tradicionais (sacerdotes fetichistas) alegaram que
o projeto violava o equilíbrio espiritual da comunidade. Como resultado:
Protestos locais e pequenas sabotagens ocorreram no local da mineração.
Agentes comunitários se recusaram a cooperar, o que atrasou a
operação.
A empresa sofreu milhões em perdas devido aos atrasos e teve que
renegociar suas licenças.
Resolução
A empresa contratou consultores culturais e estabeleceu um diálogo com
lideranças tradicionais.
Ações tomadas:
Cerimônias rituais de reconciliação com a terra, financiadas pela
empresa.
Acordos comunitários: construção de escolas e clínicas na área.
Incorporação de líderes tradicionais em comitês de supervisão
ambiental e social.
Com estas medidas:
A operação de mineração ganhou aceitação local.
A empresa melhorou sua reputação em Gana e no mercado
internacional.
As bases para uma cooperação sustentável foram lançadas.